Soluções prontas para uso

O ato de medicar e prestar assistência ao paciente dentro de um estabelecimento hospitalar é definido como um sistema complexo, que envolve diferentes processos e profissionais de saúde e a compreensão das etapas do processo exige a união de diferentes partes envolvidas.1

São identificados pela Joint Commission on Acreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) cinco processos para um adequado sistema de medicação, que são: Selecionar o medicamento para prescrição (1), preparar (2), dispensar (3), administrar (4) e monitorar (5) o paciente em relação a efeitos do medicamento. Contudo, estudos realizados nos últimos anos evidenciam a presença de erros nestes processos e que apresentam uma complicada realidade com consequências ao paciente, profissionais de saúde e organização hospitalar.2,3 O entendimento de processos e despesas são fundamentais na gestão de um hospital, onde é notório haver custos elevados, recursos limitados e constante necessidade de qualidade e bons serviços.4

Diferentes protocolos são adotados por instituições com a finalidade de reduzir erros na administração de medicamentos dentro do ambiente hospitalar. Não existe um padrão internacional para etiquetar as soluções preparadas para dispensação, contudo, há a recomendação de clareza na identificação do conteúdo, sem o uso de abreviaturas, informando dose, frequência, via de administração e dados de identificação do paciente, conforme guidelines para a segurança do mesmo, tornam-se fundamentais para a administração. Adicionalmente, símbolos e cores podem ser padronizados internamente nas instituições, como forma de chamar a atenção para produtos críticos que ofereçam risco em potencial.

Medicamentos injetáveis representam uma fração extremamente significativa das dispensações em farmácia hospitalar, sendo também os que apresentam maior risco ao paciente. Dentre esses medicamentos estão os eletrólitos concentrados, como o potássio e o fosfato, amplamente utilizados para o ajuste do balanço eletrolítico e reversão emergencial de condições metabólicas anormais. Dessa forma é importante enxergar tais soluções como possíveis fontes de erros críticos e desenvolver processos claros e seguros para seu monitoramento e dispensação, já que sua correta inutilização pode levar a danos irreversíveis, ou até mesmo o óbito.

Os setores hospitalares que apresentam as mais altas taxas de erros são o bloco cirúrgico, a emergência e o CTI, cujas consequências também tendem a ser mais graves. Um estudo realizado em um hospital americano mostra que 44,8% das cirurgias envolveram pelo menos um erro de medicação e 33% destes erros acarretaram danos ao paciente.5 A grande possibilidade de erros de medicação ocorre por se tratar de ambientes complexos, com múltiplos medicamentos sendo administrados em pequenos intervalos de tempo. A anestesia é considerada um ponto crítico dada potencial toxicidade das medicações utilizadas, sendo os erros mais frequentes a dose, medicamento e via de administração, e não de forma incomum encontramos os três erros na mesma seringa.6 Na prática, os medicamentos são administrados com frequência em situações críticas, em ambientes com múltiplas distrações e o estudo de Cooper e colaboradores evidenciam a necessidade de desenvolver protocolos para aprimorar a segurança do paciente.

A pandemia de COVID-19 causou abrupta redução no número de cirurgias eletivas, reduzindo a média de custo por hora dos centros cirúrgicos para R$783,00 em dados levantados pela Planisa, com 112 hospitais para o primeiro semestre de 2021.7 São custos consideráveis e elevados dentro da rotina hospitalar, uma vez que o centro cirúrgico é uma unidade de alto custo e deve estar preparada para uso mesmo quando a agenda não está reservada para procedimentos.8

Erros de medicação podem prolongar a permanência dos pacientes nas instituições de saúde, relacionando isto diretamente ao aumento de custos (Ucha Samartin et al., 2013).9 Estudos de levantamento realizados a partir de 1997 apresentam valores próximos a 5 milhões de dólares por ano ou uma média de 3 a 5 mil dólares por eventos preveníveis. Essa discussão apresenta mais destaques nos últimos anos, a partir da publicação do relatório americano To err is human: building a safer health system,10 que estimou de 44 a 98 mil mortes de pacientes em decorrência de erros que poderiam ser evitáveis, resultando um custo potencial de aproximadamente 3 milhões de dólares ao ano para a instituição de saúde (Kohn et al., 1999).11

Para facilitar os processos que envolvam a dispensação e a administração de certos medicamentos, é possível adquirir apresentações de eletrólitos críticos e medicamentos de alta vigilância em apresentações prontas para uso, já rotuladas com as principais informações como nome do medicamento no formato DCB, dose adequada para infusão (eliminando a necessidade de cálculos e diluição à beira leito ou na farmácia central), via de administração e sinalizações de segurança já dispostos no rótulo desde a sua entrada na farmácia. Estas apresentações garantem mais segurança na administração, ajudam a reduzir riscos de contaminação ou uso incorreto ao apresentar uma solução estéril e pronta, que requer um menor número de etapas, materiais e manipulações necessárias para o preparo antes da administração, contribuindo com melhores resultados clínicos, oferecendo segurança ao paciente e ao processo de administração, facilitando a adesão à protocolos e a reduzir incidência de complicações e seus custos associados.

Como resultado, a qualidade do cuidado com o paciente se mostra mais eficiente, reduz-se a incidência de complicações e seus custos associados12, além de atender às recomendações de melhores práticas estabelecidas pela INS, ANVISA e JCI.

Referências bibliográficas
1. Nadzan DM. A System Approach to Medication Use. In: Cousins DM. Medication Use: A System Approach To Reducing Errors. Oakbrook Terrace (IL): Joint Commission; 1998. p.5-18.
2. Leape LL, Bates DW, Cullen DJ, Cooper J, Demonaco HJ, Gallivan T, et al. System analisys of adverse drug events. JAMA 1995; 274(1):35-43.
3. Leape LL, Kabcenell AI, Gandhi TK, Carver P, Nolan TW, Berwick DM. Reducing adverse drug events: lessons from a breakthroughs series collaborative. Jt Comm J Qual Improv 2000; 26(6):321-31.
4. Falk, James Anthony. Gestão de custos para hospitais: conceitos, metodologias e aplicações; São Paulo; Atlas; 2001. 163 p.
5. Nanji KC, Patel A, Shaikh S, Seger DL, Bates DW. Evaluation of Perioperative Medication Errors and Adverse Drug Events. Anesthesiology. 2016;124(1):25-34.
6. Cooper JB, Newbower RS, Long CD, McPeek B. Preventable anesthesia mishaps: a study of human factors. 1978. Quality & safety in health care. 2002;11(3):277-82.
7. PLANISA. PAINEL DE INDICADORES PLANISA. 1º SEMESTRE 2020. Disponível em: https://planisa.com.br/site/wp-content/uploads/2020/11/planisa-2020.pdf. Acesso em: 15 dez. 2021.
8. PLANISA. Levantamento: média de custo/hora dos centros cirúrgicos é de R$ 783: levantamento: média de custo/hora dos centros cirúrgicos é de r$ 783. Levantamento: média de custo/hora dos centros cirúrgicos é de R$ 783. Disponível em: https://medicinasa.com.br/custo-centro-cirurgico/. Acesso em: 20 dez. 2021.
9. Ucha-Samartin M, Pichel-Loureiro A, Vázquez-López C, Payero MA, Parente DP, Castro NML. Impacto económico de la resolución de problemas relacionados con medicamentos en un servicio de urgencia. Farm Hosp. 2013;37(1):59-64.
10. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson ME. To err is human: building a safer health system. Washington: National Academy Press [Internet]; 1999. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK225182/. Acesso em: 12 jan. 2022.
11. Custo do erro de medicação e eventos adversos à medicação na cadeia medicamentosa J Bras Econ Saúde 2018;10(2): 179-189


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