Emulsões lipídicas à base de Ômega 3 na nutrição parenteral em neonatos

A nutrição é prioridade nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros. Frequentemente, eles apresentam intolerância à nutrição enteral (NE) ou inviabilidade do trato gastrointestinal por condições como: enterocolite, gastrosquise e atresia intestinal, sendo indicada nutrição parenteral (NP). O uso prolongado de NP pode levar a complicações, entre elas, a doença hepática associada à NP, ou intestinal failure–associated liver disease (IFALD). O critério diagnóstico de IFALD é a apresentação de icterícia colestática (bilirrubina direta > 2 mg/dl) depois do início da NP ou em qualquer período durante a NP prolongada.

Os fatores associados a IFALD são multifatoriais: composição, duração e administração da NP. Contudo, estudos têm focado nas emulsões lipídicas (EL) a base de óleo de soja, como fator no desenvolvimento da IFALD, e as razões incluem: estresse oxidativo, ácidos graxos poliinsaturados ômega-6 (pró inflamatório), baixo teor de -tocoferol (antioxidante) e o acúmulo de fitosteróis. Em geral, crianças apresentam colestase com mais rápida progressão para fibrose e para doença hepática em estágio final. A restrição de lipídios para hepatoproteção aumenta o risco de deficiência de ácidos graxos essenciais, nutrientes cruciais para o desenvolvimento neuronal e retiniano em prematuros. Consequentemente, a oferta energética diminui, assim como o crescimento e o neurodesenvolvimento são afetados. ELs são compostas por diferentes tipos de óleos: óleo de soja, óleo de peixe (rico em ômega 3), óleo de oliva e triglicerídeo de cadeia média (TCM). Estudos randomizados, apesar de escassos, demonstraram que EL a base de óleo de peixe (ELpeixe) melhora e reverte a IFALD na dose de 1g/kg/dia. Pesquisa recente em prematuros de alto risco IFALD, o uso de ELpeixe levou à resolução da colestase e diminuiu o risco de morte e insuficiência hepática. Após 6 e 12 meses, não havia diferença no peso e perímetro cefálico, porém apresentaram menores escores nas escalas de desenvolvimento. Apesar de algumas limitações do estudo, o uso de ELpeixe pareceu ser seguro e reverteu colestase.

Cerca de 50% das crianças menores de 12 meses, em NP prolongada, poderão desenvolver doença hepática. Nos pacientes com falência intestinal, IFALD piora a adaptação intestinal e prolonga o tempo em NP. O entendimento atual quanto à gênese da IFALD nos permite reconhecê-la e tratá-la precocemente, principalmente no grupo de alto risco como prematuros e pacientes em NP prolongada, reduzindo significativamente a necessidade de transplante hepático.

Leia também: Nutrição Parenteral em pacientes criticamente enfermos

Por:

Dra. Márcia Schneider
Pediatra e Especialista em Nutrologia Pediátrica


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